EDITORIAL DA REVISTA INTENSIVA - Edição 15 - 2008 - Agosto/Setembro

Por quê somos Socorristas ....

A história da Medicina de Urgência é repleta de gratidão, humanismo e fraternidade. Desde os primórdios, o ser humano agride a si próprio, provoca dor, sofrimento a sua própria espécie. As intermináveis guerras simbolizam o sentido de auto-destruição levando inúmeros profissionais de saúde a se dedicar e amparar feridos em conflitos. Henry Dunant criou a Cruz Vermelha Internacional em 1863 como sinal de alerta à evidente progressão das armas de destruição em massa, declarou que o ferido não possui pátria, é cidadão do mundo e pertencente a raça humana, dotada de consciência e constituída de uma grande família que sente, ama e crê no criador.

Assim tem sido nossa história, uma história de socorrismo, de presença, de solidariedade. Socorrista é todo cidadão que vê na sua ajuda um esperança para o mundo melhor, sem desigualdades, no exercício da irmandade, na presença no momento da angústia e do sofrimento humano. O atendimento rudimentar nos campos de batalha, com feridos transportados em macas primitivas nas guerras gregas em choque hemorrágico, pneumotórax provocados por lanças, traumatismo craniano por instrumentos militares grotescos lançadores de pedras, lacerações por espadas ou machados num ambiente banhado por sangue misturado à terra úmida e fria. As armas evoluíram, nas Guerras Mundiais, em busca do mercado e fronteiras, o mundo assistiu a morte de 100 milhões de pessoas mortas ou mutiladas. Campos de neve repletos de sangue vermelho num campo branco da paz. Irmãos morrendo solitários, no frio, na dor, na saudade e lembrança de quem se ama ou amou. Recordações dos seus irmãos, dos seus filhos, dos seus pais, dos seus amigos e da sua casa. Contorcido, o então soldado reflete a sua grave condição sem volta, solitário num campo frio a espera da sua morte.

Mas todas estas experiências humanas foram passadas para gerações de profissionais socorristas que se transformaram em intensivistas deslocados para Unidades de alta complexidade, porém criados no atendimento emergencial dos campos de batalha, das ruas das cidades, dos Pronto-Socorros. Os grandes centro urbanos aglutinam pessoas que sentem e buscam neste aglomerado humano a sua chance de ser feliz, de viver de forma a superar as dificuldades diárias. Aqui novamente está o Socorrista, que no asfalto quente, áspero e sem cor, encontra jovens solitários acidentados, sozinho na multidão que lhe observa, relembra em flash todas as pessoas que ama, sente a felicidade do toque humano do socorrista que chegou, que lhe trouxe alívio da dor, transferindo na sua presença a sensação de todos somos únicos, seres humanos que sentem, vivem  e que também morrem, mas que morrem ou superam a tragédia dignamente, no auxílio e em companhia do seu irmão espiritual presente no Corpo de Socorristas representados nos Bombeiros, no SAMU, no Pronto Socorro ou UTI.

Somos Socorristas e intensivistas presentes na história da humanidade, somos a expressão da solidariedade, mãos que curam e confortam...

 

 

        Dr. Douglas Ferrari - Oficial Médico - Diretor - Socorristas do Brasil

 ( SUPORTE BÁSICO INTENSIVO )

* 8 Pontos da Estrela:  1- Vida    2- Ajuda   3- Solidariedade   4- Técnica   5- Agilidade   6- Coragem   7- Esperança   8- Gratidão