LEITO - UTI : UM DESAFIO IMEDIATO
O Brasil possui um vasto território e diferenças sócio-culturais. Historicamente tivemos e temos uma sociedade segregada com 50 milhões de brasileiros abaixo da linha da popreza. São doze milhões de famílias dependentes da Bolsa-Família, um programa que transfere valores de 140 Reais por pessoa, mantendo 220 Reais a renda máxima por família. O simples apoio governamental, reduziu de 12% a pobreza extrema para 4%. Outro programa que mostra a gravidade e precariedade social no Brasil é o da segurança alimentar, garantindo alimento para 40 milhões de brasileiros que estão em situação de risco, ou seja, passam fome.
Diante da situação descrita, fica a pergunta: Qual nosso papel neste grave quadro social ? Sabemos que alta complexidade gasta 50% de todo orçamento do Ministério da Saúde, também sabemos que um Leito-UTI gasta pelo menos 1000 reais por dia, isto numa visão mais otimista. A falta de estrutura do serviço emergencial é histórica. Valores destinados a investimentos na saúde e habitação foram gastos em pontes, rodovias e infra-estrutura, o desenvolvimento a qualquer preço lançou um contigente de mais de 20 milhões de homens, mulheres e crianças em favelas, tornando uma parcela do cidadão brasileiro um sobrevivente e predestinado ao sofrimento na oitava econnomia mundial.
Tenho viajado para inúmeros estados do país e vejo a falta do leito-emergencial. Por que digo emergencial ? Porque ainda temos a falsa impressão que necessariamente temos que ter o leito-uti. Sabemos que o leito-uti pode aguardar quando há uma verdadeira estrutura emergencial que recebe o paciente instável, faz diagnóstico, inicia medidas e o mantém até sua estabilidade dentro da gravidade. Protocolos internacionais já admitem a permanência em Unidades Emergenciais até 36 horas. A mentalidade da transferência imediata para UTIs é um vício e muitas vezes a transferência do tratamento ainda da doença não diagnosticada e tratada previamente.
Dentro da questão anterior, temos o agravante da pouca quantidade do leito-uti no país. Sabemos que o Brasil possui por volta de 3500 UTIs, 35000 leitos, porém apenas 50% destes leitos destinam-se a 80% da população que dependem do serviço público. O déficit de UTI na região norte-nordeste é de no mínimo 50%, devendo dobrar para atingir 5% dos leitos hospitalares ou 1 leito /5000 hab ( segundo critérios da SOBRATI ). Mas ainda sabemos que não basta abrir leitos sem equipe treinada para receber o paciente crítico. Neste sentido, a SOBRATI tem trabalhado para conscientizar, alertar e estimular práticas que possam impactar e alterar este quadro. Em recente levantamente constatamos que o Esatdo do Piauí, Maranhão e Tocantins não ultrapassam 1% do total dos leitos, ou seja, um Estado todo não possui mais que 150 leitos, total que uma cidade do ABC paulista possui 3 vezes.
Mas como mudar esta situação e não permitir a morte de 70 crianças em mês por falta do leito-uti em um grande centro urbano no Maranhão? Primeiro devemos conscientizar o intensivista do seu papel, sobretudo na defesa de um Sistema Emergencial digno. Devemos propor a continuidade do APH, PS e UTI. A equipe-uti deve participar em forma de rodízio de todas as etapas do atendimento emergencial. Deve reduzir custos, estabelecer protocolos simplificados e interdisciplinares, estimular a criação do leito-emergencial, criar equipes e ampliar UPAS humanizadas, com números que permitam a curta permanência dentro da melhora clínica. Devemos ainda abandonar protocolos internacionais de alto custo e baixa eficiência, fora da realidade dos padrões monetários brasileiros. É importante salientar que a saúde não tem preço, mas tem custo.
Para finalizar, estamos propondo uma nova idéia, onde congressos discutam a inserção do intensivista na sociedade brasileira, a redução dos custos, a prática clinica humanizada não para Hospitais de ponta, mas para uma parcela maior da população que apenas assiste um mundo muito distante do seu. Sem dúvida elitizamos a UTI. Somos administradores dos desejos tecnológicos, buscamos o faturamento até em nossos encontros científicos. Estamos alheios. Praticamos a UTI dos ricos, esquecemos a UTI dos pobres. São desafios que uma nova Sociedade Intensiva vem buscando e modificando, Qualificando, Humanizando e Democratizando a UTI Brasileira, somos a SOBRATI, brasileira no nome, na logomarca, nas idéias e ideais, no sentimento e na ação. Somos e sentimos o Brasil e sabemos que estamos plantando sementes nos corações dos profissionais para mudar, transformar uma ciência, que acima de tudo necessita estender mãos e amar. Fazer UTI com limitações, são desafios que poucos alcançam.
'' O amor é contagioso e a amizade é o melhor remédio '' ( Patch Adams, médico humanista )