Diretor Científico da Revista Intensiva

A SUPERBACTÉRIA : MEDIDAS E AÇÕES

A imprensa tem noticiado exaustivamente o aparecimento da superbactéria KPC ( Klesiella pneumoniae carbapenemase ). Como muitas outras bactérias presentes nas UTIs brasileiras, são selecionadas e disseminadas por ações humanas. A grande verdade é que a infecção hospitalar sempre foi e será uma guerra sem fim. Infecção por bactérias multirresistentes deve alertar a equipe da UTI que vários fatores podem estar desencadeando uma chamada '' CRISE '' no padrão infeccioso das Unidades Emergenciais que também revela, em parte, a Crise Hospitalar na Saúde Pública, que necessita de maiores investimentos, já que ficou por anos sucateada.

A Bactéria em questão foi identificada justamente na cidade com maior arrecadação per capita do país e IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano ) extremamente elevado. Sabemos que o Hospital de Base de Brasília é referência regional e nacional, mas sofre com a falta de verba, a superlotação e a falta de uma estrutura periférica para minimizar a demanda. São problemas com origem no passado, numa cidade de apenas 50 anos de existência. A KPC serve sim de termômetro para revelar a superlotação, a difícil desinfecção em hospitais abarrotados que somam às infecções de maior complexidade que exigem antibióticos de 3a e 4a gerações.

Revelando o poder da natureza, as bactérias ensinam as equipes de UTI que medidas básicas e fundamentais de higienização dentro dos hospitais são verdadeiramente os principais, senão únicos, mecanismos para inibir a proliferação das ditas superbactérias. Há também o uso indiscriminado dos antibióticos nas UTIS, isto é fato notório. Devemos refletir e pensar se não estamos exagerando '' literalmente na dose ''.  Na conjuntura, é muito difícil termos pacientes com o uso de um único antibiótico. São dois, três e às vezes quatro antimicrobianos envolvidos na terapêutica. Será que realmente a maioria necessita de esquemas amplos e muitas vezes monstruosos ? Para isto, o prognóstico, a avaliação clínica e a discussão planejada com a CCIH, favorecem a racionalidade, ou seja, o USO RACIONAL ( não o desuso ).

Em 1683 Leeuwenhoek descobre as bactérias. Por volta de 1850, Semmelweis, médico obstetra, estabelece a necessidade de lavar as mãos.   Colocou sua carreira, sua reputação e seu bem estar para convencer a comunidade hospitalar que tínhamos um '' agressor oculto ''. A partir de 1870 Louis Pasteur e Robert Koch descrevem efetivamente a relação entre a ação bacteriana e a doença. Em 1929 Flemming desenvolve o primeiro antibiótico, a penicilina.

1929 - Penicilina; 1947 - Cloranfenicol; 1948 - Cefalosporina; 1956 - Vancomicina; 1962 - Quinolonas ; 1964 - Cefalotina ( Keflin/Keflex )  1984 - Novas Quinolonas; 1976- Carbapenêmicos ( Tienam ); 1985- Ceftriaxone;  1990 - Cefoxitina ( Mefoxin ); 1990 - Linezolida ( Zyvox ) Aprovada para uso 2000; 2005 - Tigeciclina ( tygacil ).

'' A KPC é uma ponta de iceberg que revela o lado obscuro dos hospitais superlotados '' DF