TRATAMENTO PNEUMO-FUNCIONAL NO TÓRAX FLÁCIDO AGUDO EM PACIENTES INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Autor: Clara Teixeira Abatepietro
Cidade: São Paulo
Estado: SP
Email: cla_pietro@hotmail.com
Instituição: Instituto
Brasileiro de Terapia Intensiva e Hospital Santa Cruz
Profissão: Fisioterapeuta
Orientador: Rodrigo Tadine
Resumo:
O tórax flácido e considerado ser umas das mais severas condições
resultante de trauma de tórax fechado com índices de alta morbi-mortalidade e
resulta da fratura de duas ou mais costelas em dois pontos distintos no mesmo
segmento, o que gera instabilidade da parede torácica e conseqüente movimento
paradoxal.
A fisioterapia intensiva atua tanto na prevenção como no tratamento das
complicações pulmonares decorrentes desta patologia, visto que esses pacientes
apresentam diminuição ou ausência do reflexo da tosse e superficialidade da
respiração.
As principais condutas na pratica clinica do fisioterapeuta no tórax flácido
estão voltadas para melhorar as capacidades e volumes pulmonares e obter
adequada oxigenação e ventilação pulmonar e esses objetivos são alcançados
através de exercícios com pressão positiva visando reexpansao pulmonar e
adequada higiene brônquica para manter pérvias as vias aéreas.
E de fundamental importância que o fisioterapeuta saiba ajustar parâmetros
ventilatórios nesses pacientes de forma adequada a fim de manter a função
pulmonar, já que a maioria deles podem evoluir para um quadro de IRpA
necessitando de assistência ventilatória invasiva.
Abstract: Flail chest is considered to be ones of most severe conduces
resultant of closed trauma of chest with indices of high morbid-mortality and
results of the breaking of two or more ribs in colon disitintos in the same
segment, what it generates instability of the thoracic wall and consequent
paradoxical movement. The intensive physiotherapy acts in such a way in
prevention as in the treatment of complications pulmonary decurrent of this
pathology, since these patients present decrease or absence of the consequence
of the cough and superficiality of breathing. The main behaviors in practice
clinical of the physiotherapist in flail chest are voltadas to improve the
capacities and pulmonary volumes and to get adequate oxygenation and ventilation
pulmonary and these objectives are obtained across of exercises with positive
pressure aiming at reexpansive pulmonary and adjusted bronquica hygiene to keep
pervious the areas ways. E of basic importance that the physiotherapist knows to
adjust ventilatorios parametros in these patients of similar adequate form to
keep function pulmonary, since the majority of them can evolve for a picture of
IRpA needing invasive ventilatory assistance.
Introdução: O trauma tem alcançado níveis epidemiológicos na maioria
dos países ocidentais. É a primeira causa de morte em menores de 45 anos e a
terceira de todas as idades, precedidas unicamente pelas doenças
cardiovasculares e o câncer (PÉREZ et al, 2002).
Os traumatismos torácicos podem ser classificados em traumas fechados quando
atingem a parede, a pleura e os pulmões, com maior ou menor gravidade, ou
perfurantes quando sempre atingem os pulmões e é uma das principais causas de
morte do paciente politraumatizado constituindo cerca de 25% destas em conseqüência
de ruptura de grandes vasos, coração e árvore traqueobrônquica e outros 50 a
75% das complicações resultantes de traumatismo (CARVALHO, 2000; KNOBEL,
1998).
O tórax flácido é considerado ser um trauma fechado de tórax e uma das
mais severas condições resultantes de traumatismo torácico grave com alta
morbi-mortalidade e resulta da fratura de mais de 2 costelas em dois pontos
diferentes no mesmo segmento, o que gera instabilidade da parede torácica e
conseqüente ventilação paradoxal (KNOBEL,1998; PÉREZ et al,2002; TANAKA et
al, 2001).
Embora as seqüelas tardias de um trauma torácico com tórax flácido ocorram
em 63,9% dos pacientes, a maioria é de seqüelas menores, como algias
persistentes, deformidades torácicas ou dispnéia aos esforços (CARVALHO,
2000) .
Por muito tempo acreditou-se que a instabilidade da parede torácica nesse tipo
de trauma fosse a responsável pela insuficiência respiratória aguda que esses
doentes desenvolvem e causa de morte dos mesmos. Hoje, sabe-se que a dor e a
contusão pulmonar quase sempre associada são os grandes responsáveis pela
gravidade do quadro clínico que se instala e devem ser eles os objetivos de
tratamento. Pouco relevante é o segmento instável do tórax flácido, por
maior que seja a respiração paradoxal (TERRA FILHO et al, 2001).
A forte dor causada pelas fraturas das costelas provoca diminuição ou ausência
do reflexo da tosse e superficialidade da respiração. Essas alterações
acarretam em complicações pulmonares sendo necessário o início precoce
de fisioterapia intensiva com a finalidade de reduzir ou evitar a restrição na
função pulmonar que pode surgir em graus variados. Além disso, esses
pacientes devem ser internados em UTI pois são considerados graves ou com
potencial para gravidade já que a maioria deles desenvolve Insuficiência
Respiratória Aguda (IRpA) necessitando de assistência ventilatória, vigilância
constante, dosagem dos gases arteriais e analgesia eficaz (MARSICO &
AZEVEDO, 2000) .
Diante desses achados, podemos observar que a fisioterapia atua tanto na prevenção
quanto no tratamento em si das complicações decorrentes desta patologia e é
de fundamental importância o seu início precoce.
Objetivo: Revisar tratamento pneumo-funcional para pacientes com tórax
flácido por trauma agudo internados em Unidade de Terapia Intensiva.
Material e método: Revisão Bibliográfica
O tórax flácido também denominado tórax flutuante, tórax instável ou
afundamento torácico surge em conseqüência de fratura de 2 ou mais costelas
adjacentes em dois pontos distintos devido a trauma torácico ou ainda fratura
das junções cartilaginosas ou fratura de esterno, onde o segmento instável
perde a continuidade com o restante da caixa torácica, assumindo o movimento
paradoxal durante a respiração espontânea causando disfunção ventilatória
e de troca gasosa (DAVIGNON et al,2004; KNOBEL,1998 ; MIDDLETON et al,2003;VELMAHOS
et al,2002; WEINGARTHER et al,1997).
O movimento paradoxal é mais comum quando há cinco ou mais costelas fraturadas
e pode não ser aparente na avaliação inicial devido a contratura inicial antálgica
que mantém uma certa estabilização (TARANTINO,1997). O quadro torna-se
potencialmente grave quando há mais de seis costelas fraturadas em dois locais
no mesmo segmento do tórax e uma contusão pulmonar adjacente (KNOBEL, 1998).
Os afundamentos torácicos classificam-se em anteriores, ântero-laterais,
laterais, póstero-laterais ou posteriores dependendo da região onde foi
aplicada a força traumática (GALLUCCI, 1982; MARSICO & AZEVEDO, 2000). Os
anteriores resultam de força aplicada no sentido antero-posterior como é comum
em acidentes automobilísticos onde o motorista se choca contra o volante. Neste
caso, ocorrem fraturas condro-costais, freqüentemente acompanhadas de fratura
de esterno e contusão cardíaca. Os afundamentos laterais são os mais freqüentes
e atingem a região de grande mobilidade costal, sendo portanto, mais dolorosas.
Costumam se associar a hemo ou pneumotórax. Já as fraturas de costelas
posteriores causam pouca dor e raramente movimentação paradoxal, devido a sua
fixação à musculatura paravertebral e ao efeito estabilizador conferido pela
escápula (GALLUCCI, 1982).
Incidência e Mortalidade
A incidência de tórax flácido tem aumentado nas últimas décadas,
principalmente nos acidentes automobilísticos, onde pode ocorrer em até 25%
dos casos (GALLUCCI, 1982).
A ocorrência deste tipo de trauma é verificada em 1,4% de todos os casos de
traumatismo torácico e ocupa 10 a 20% dos pacientes hospitalizados por trauma
de tórax, onde a mortalidade costuma ser alta (30%-35%) (DAVIGNON et al,2004;
KEOHANE et al,1999; MARSICO & AZEVEDO,2000; VELMAHOS et al,2002).
A morte é ocasionada pela própria lesão da parede ou, principalmente, em
virtude das grandes lesões associadas que costumam estar presentes (MARSICO
& AZEVEDO, 2000). A mortalidade imediata ocorre na cena do acidente e
representa 50% das mortes por traumatismo e as causas são as lesões dos
grandes vasos, coração e cérebro. A mortalidade precoce ocorre poucas horas
depois do traumatismo e suas causas são hemorragia e lesão de vias aéreas e
pulmões. A mortalidade tardia ocorre de 3 a 4 dias a 3 a 4 semanas desde o
acidente e suas causas são traumatismo crânio-encefálico com hipertensão
intracraniana e falência de múltiplos órgãos (PÉREZ et al, 2002).
Verificou-se em um estudo que a mortalidade de pacientes com tórax flácido e
lesões associadas ao tórax foi de 20%; com lesão abdominal associada 35%;
existindo concomitância com trauma crânio-encefálico, 55% dos pacientes e com
lesão medular o índice foi de 70% (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
Fisiopatologia
A maioria dos casos de traumatismo de tórax não é penetrante e se deve a
acidente automobilístico. Os principais mecanismos que produzem a lesão
intratorácica no trauma de tórax fechado são as fraturas ou desarticulações
de costelas, fratura do esterno, elevações rápidas das pressões intracavitárias
e movimento de órgãos produzindo forças de tração, com possibilidade de
rupturas visceral ou vascular (WEINGARTHER et al, 1997).
Com o tórax flácido, a continuidade da parede torácica é interrompida e a ação
fisiológica das costelas é alterada. Isso resulta em movimento paradoxal do
segmento instável e a severidade deste é determinada pela extensão do
segmento flácido, a ativação dos músculos intercostais durante a inspiração
e a consequente mudança na pressão pleural (DAVIGNON et al, 2004).
As condições mínimas para que o movimento paradoxal surja implicam em que as
fraturas ocorram na mesma costela em mais de um local atingindo 3 ou mais
costelas vizinhas e/ou fraturas múltiplas de cartilagens costais com ou sem o
envolvimento do esterno (KNOBEL,1998) .
A força necessária para provocar o tórax flácido depende da complacência
dos arcos costais. Pessoas idosas podem apresentar grandes segmentos instáveis
com impacto de baixa energia. Lesões extensas comprometendo a parede torácica
não desenvolverão necessariamente movimento paradoxal. Entretanto, vários
focos de fraturas podem concentrar-se em uma área pequena da parede torácica,
onde a ausência de músculos potentes capazes de dar sustentação à parede
facilita o aparecimento do movimento paradoxal no local (MARSICO & AZEVEDO,
2000).
Durante a inspiração a pressão intratorácica se torna negativa e, através
da ação exercida pela pressão atmosférica, que gera um gradiente pressórico
positivo, faz com que o segmento instável da parede torácica se retraia e
"afunde", não acompanhando o restante do gradil costal, que se
expande. Na expiração ocorre o inverso: o segmento instável retorna à sua
posição original ou, dependendo do esforço expiratório, pode até abaular
para fora do gradil costal. Isso caracteriza o movimento paradoxal (CARVALHO,
2000; MARSICO & AZEVEDO,2000).
Lesões associadas
A violência necessária para fraturar múltiplas costelas lesa também outros
órgãos, incluindo os órgãos intratorácicos subjacentes, configurando quase
sempre um quadro de politraumatismo. Assim, quando o número de costelas
fraturadas for maior que sete, há 50% de possibilidade de ocorrência de outras
leões intratorácicas e 15% de leões intra-abdominais. As fraturas das
costelas inferiores costumam estar acompanhadas de lesões em órgãos
abdominais, principalmente fígado e baço. Traumatismos cranioencefálicos
e ortopédicos se associam a 20 a 40% dos casos (GALLUCCI, 1982; MARSICO &
AZEVEDO, 2000).
Dentre as lesões associadas podemos citar a contusão pulmonar, pneumotórax,
hemotórax, contusão do miocárdio, hemipericárdio com tamponamento cardíaco,
ruptura de grandes vasos e árvore traqueobrônquica e mais raramente ruptura de
diafragma (DAVIGNON et al, 2004; KNOBEL,1998; MARSICO & AZEVEDO,2000).
Outras lesões como lacerações do parênquima pulmonar, hematomas,
pneumatoceles traumáticas e redução do débito cardíaco também podem
ocorrer e nas fases mais tardias, o paciente pode vir a desenvolver um quadro de
SARA (KNOBEL, 1998).
A contusão pulmonar ocorre no parênquima pulmonar adjacente ao trauma do tórax
e é considerado ser a mais grave e a mais freqüente das lesões intratorácicas
associadas, sendo a mais responsável pela alta mortalidade e a principal causa
de insuficiência respiratória aguda nesses pacientes e ainda causadora de
shunt arteriovenoso determinando hipoxemia grave (DAVIGNON et al, 2004; GALLUCCI,1982;
TARANTINO,1997). É caracterizada por exudação traumática de líquido e
sangue no interstício e espaços aéreos do parênquima pulmonar sem laceração
ou ruptura do pulmão (SOTO et al,2000). Se houver ruptura pulmonar o pulmão
torna-se edemaciado, com variáveis graus de hemorragia e necrose (DAVIGNON et
al, 2004). A contusão pulmonar ocorre em 30 a 75% dos traumatismos fechados do
tórax em até 45% dos afundamentos e constitui provavelmente o fator mais
importante no aparecimento da síndrome do "pulmão úmido" quando o
comprometimento é mais extenso (GALLUCCI,1982).
Quadro clínico
A maioria dos pacientes que apresentam tórax instável é politraumatizada (MARSICO
& AZEVEDO, 2000).
Nos grandes afundamentos de tórax, que cursam com movimento paradoxal, estão
associados a taquipnéia e a dispnéia devido a contusão pulmonar. Geralmente a
lesão da parede estará acompanhada de hemopneumotórax, hemotórax ou pneumotórax.
A cianose e a estase jugular estão presentes em casos mais complicados com
pneumotórax hipertensivo ou tamponamento cardíaco, hipotensão ou choque
hemorrágico por perda de volume ou por coleção intrapleural (GALLUCCI, 1982;
MARSICO & AZEVEDO, 2000).
Nos casos mais leves, com pequeno afundamento e sem outras lesões associadas, o
paciente apresenta apenas dor pelas fraturas de costelas. A dor é do
tipo,pleural e piora com a movimentação do tórax e a tosse. As fraturas
anteriores e posteriores doem menos, pois se movem menos durante a respiração.
Pelo motivo contrário, as laterais são mais dolorosas e geralmente a crepitação
e enfisema sobre a região (GALLUCCI, 1982).
Complicações
O principal problema que esses pacientes apresentam é a dor intensa causada
pelas fraturas de costelas. Como conseqüência disso o paciente desenvolve uma
série de complicações:
. inibição reflexa do movimento do diafragma: resulta em hipoventilação
. hipoventilação: acarreta atelectasias, hipóxia e retenção de secreções.O
aumento nessa produção de secreção resulta do trauma torácico e inibição
reflexa combinada com hipoventilação, o que aumenta o risco do paciente
desenvolver uma infecção pulmonar e evoluir para IRpA (MIDDLETON et al,2003).
. tosse ineficaz: retenção de secreções
. alterações hemodinâmicas e arritmias cardíacas: o movimento de vaivém do
mediastino, criado a partir da diferença de pressão estabelecida entre as
cavidades pleurais, faz com que na inspiração ocorra desvio para o lado
indene, que apresenta maior pressão intrapleural negativa e, na expiração,
para o lado comprometido, com menor negatividade. O coração e os vasos da
base, ao serem deslocados, propiciam o surgimento de alterações hemodinâmicas
e arritmias cardíacas. O quadro é agravado quando há associado contusão cardíaca,
hemopericárdio com tamponamento cardíaco entre outras (MARSICO & AZEVESO,
2000).
Alterações funcionais
Sempre se instalam alterações mecânicas devido à dor e às lesões de
parede. Entretanto, essas alterações funcionais são variáveis de acordo com
o tipo de lesão, reserva fisiológica do paciente, idade e outros fatores
(CARVALHO, 2000).
Quanto maior for a área de afundamento da parede torácica, mais intensa será
a repercussão sobre a ventilação pulmonar (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
A perda estrutural da caixa torácica dificulta a negativação da pressão
intrapleural e restringe a capacidade de expansão pulmonar. Como conseqüência
há uma diminuição significativa do volume corrente e aumento significativo da
freqüência respiratória e volume minuto. A diminuição significativa do
volume corrente é progressiva a medida que se aumenta o número de costelas
fraturadas, ou seja, quanto maior a área instável que se deprime na inspiração
menor será o volume corrente. Ao perder sua estabilidade estrutural, a pressão
negativa intratorácica gerada na inspiração traciona a área instável para
dentro, impedindo desta maneira que o volume intratorácico alcance o seu valor
máximo. A freqüência respiratória também aumenta progressivamente a medida
que se fraturam as costelas levando ao aumento do volume minuto. As variações
na freqüência respiratória, volume minuto e volume corrente são
proporcionais a superfície comprometida. Os pacientes ainda apresentam diminuição
da capacidade vital e da capacidade residual funcional (MARSICO & AZEVEDO,
2000; SOTO et al, 2000).
A ventilação alveolar diminui, em particular na porção do parênquima
correspondente, porém a perfusão se mantém. A alteração V/Q provoca hipóxia.
Isto, soma-se a contusão pulmonar, quase sempre presente, caracterizada por
edema, hemorragia intersticial e alveolar que diminui a complacência
pulmonar e altera a troca gasosa. A presença de hemorragia e edema eleva
progressivamente a pressão intersticial e a compressão dos diminutos
capilares. Essas alterações causam aumento da resistência vascular pulmonar e
diminuição do fluxo de sangue na região comprometida. Além destes fatores,
surgem zonas de atelectasias responsáveis por shunts direito-esquerdo, que,
posteriormente, reduzem a PaO2 e causam retenção de CO2. Na dependência da
intensidade do trauma e do comprometimento pulmonar, a resultante final será da
IRpA (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
Diante disso, observamos que a IRpA que esses pacientes desenvolvem é
produto de uma somatória de lesões associadas que acompanham habitualmente
esses pacientes e não do tórax flácido em si além de que o tórax flácido
com fratura de 5 costelas sem patologia associada não conduz alterações
significativas da PaO2 e PaCO2 e o quadro de hipóxia não resulta da ventilação
paradoxal mas sim da lesão do parênquima pulmonar (SOTO et al, 2000).
O tórax flácido altera a ventilação pulmonar, porém por si só não oferece
riscos de gravidade que lhe são atribuídos (SOTO et al, 2000).
Resultado: O tratamento do tórax instável ainda é um problema grave,
complexo e controverso. A obtenção de bons resultados está diretamente
relacionado ao entendimento da fisiologia respiratória e a escolha
adequada do método de tratamento a ser empregado. O objetivo prioritário, em
todos os pacientes, é minimizar as complicações pulmonares resultantes do
trauma e assim evitar o início da seqüência de eventos responsáveis pela
progressiva IRpA (MARSICO & AZEVEDO, 2000; MIDDLETON et al, 2003).
Inicialmente consiste em manter a árvore traqueobrônquica limpa e a parede torácica
estabilizada. Essas metas são mais facilmente alcançadas através de analgesia
e fisioterapia pneumo-funcional eficaz (MARSICO & AZEVEDO, 2000). Atualmente
existe um consenso de que a sedação da dor e a fisioterapia intensiva,
associadas à profilaxia das complicações e à intervenção o mais precoce
possível, são os principais objetivos (KNOBEL, 1998).
O uso de analgésicos ou bloqueio dos nervos intercostais ou peridural
(anestesia peridural contínua) permite uma fisioterapia efetiva (DAVIGNON et
al, 2004; MARSICO & AZEVEDO, 2000; SOTO et al, 2000). A diminuição da dor
facilita e reduz o esforço ventilatório e, freqüentemente, o movimento
paradoxal reduz ou cessa (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
A Fisioterapia deve ser realizada com exercícios respiratórios de preferência
com pressão positiva (VPPI) através de máscaras nasal ou facial ou ainda
bocal, tosse assistida e nebulização para fluidificar as secreções, devendo
ser praticada de forma intensa, precoce e específica e é um importante fator
nos pacientes com trauma de tórax, devendo ser dirigida não só a parte
respiratória como também a motora para evitar alterações musculares e
articulares, escaras e outras, atuando em conjunto com a equipe de enfermagem
(CARVALHO, 2000; GALLUCCI, 1982; TARANTINO, 1997).
O fisioterapeuta deve enfatizar a importância da ventilação profunda e tose
efetiva para promover uma adequada higiene brônquica. O paciente deve ser
induzido a tossir colocando suas mãos sobre a área do tórax fraturada e
comprimindo-a com o objetivo de minimizar a dor provocada pela mesma (MIDDLETON
et al, 2003).
As manobras de higiene brônquica como a tapotagem e/ou vibrocompressão são
consideradas contra-indicações relativas, pois não se pode tapotar e/ou
vibrar em cima do local fraturado, mas sim no tórax contralateral, ou seja,
deve-se tomar algumas precauções na aplicação dessas manobras (SULLIVAN,
2004).
Nos pacientes que apresentam secreção brônquica abundante é introduzido a
antibioticoterapia e realizada a aspiração traqueal (TARANTINO,1997). É
importante assegurar uma adequada oxigenação arterial através de oxigenioterapia
com oferta de O2 por meio de máscaras ou cateter nasal (SOTO et al, 2000).
O fisioterapeuta deve analisar freqüência respiratória, saturação de oxigênio,
tipo de respiração, pico de fluxo expirado, gasometria arterial e ausculta
pulmonar para desenvolver um programa de tratamento efetivo e alcançar os
objetivos propostos. O tratamento pode ser realizado no mínimo três vezes ao
dia para os primeiros três dias e quando necessário e as técnicas utilizadas
envolvem exercícios de expansão pulmonar para reexpandir o pulmão subjacente,
reeducação diafragmática, técnicas de expiração forçada para remoção de
secreção e o uso do inspirômetro de incentivo no caso do pacientes
conscientes. Já os que estão inconscientes ou sob assistência ventilatória
mecânica deve ser realizada aspiração traqueal para remoção de secreções
(MIDDLETON et al, 2003; SOTO et al, 2000) .
A fisioterapia é considerada ser um método ativo e não passivo e é
apropriada pois tem efeito positivo na higiene brônquica, além de que a
analgesia epidural permite que os pacientes realizem-na de maneira efetiva, além
do que a presença do fisioterapeuta na UTI promove reconhecer a importância de
quando realizar a higiene brônquica (TANAKA et al, 2001).
O decúbito lateral sobre o lado comprometido ou o enfaixamento do tórax
imobilizam a região diminuindo a dor e são considerados recursos úteis (MARSICO
AZEVEDO,2000), porém esta técnica só apresenta efeitos benéficos em relação
a dor, já que essa compressão do lado instável piora a mecânica ventilatória
sendo seu uso indicado apenas em tórax flácido que compromete pequenas áreas
da parede torácica e em pacientes sem evidência de IRpa (SOTO et al, 2000).
Para FELTRIM (1994), o decúbito lateral acentua a mobilidade do diafragma do
lado apoiado otimizando dessa maneira a respiração abdomino-diafragmática. O
enfaixamento semicircular do tórax impede a livre movimentação das costelas e
portanto dos fragmentos fraturados diminuindo a dor (GALLUCCI, 1982). Posicionar
o paciente em decúbito levando em conta as lesões assimétricas -
exclusivamente ou principalmente unilaterais - que causam resistências
diferentes (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
O CPAP mantém o princípio de estabilização pneumática interna, sem os
riscos inerentes a intubação traqueal e ventilação mecânica. Obviamente, o
seu uso está restrito a pacientes menos graves e apresenta bons resultados em
pacientes com tórax flácido já que o uso da peep nessas circunstâncias
previne as microatelectasias e o uso de pressão positiva reduz a dissincronia
do segmento instável (DAVIGNON et al, 2004; MARSICO & AZEVEDO, 2000;
TARANTINO, 1997).
Um estudo realizado em 1997 relatou o caso de uma paciente vítima de acidente
automobilístico com quadro de IRpA secundária a tórax flácido tratada com
ventilação não invasiva (PS + peep) com PS = 10cmH2O, peep = 5cmH2O e FiO2 =
45% e teve como resultado a reversão do quadro de IRpA sem o desenvolvimento de
infecção nosocomial, o que mostra que a VNI apresenta bons resultados no tórax
flácido, porém deve-se ressaltar que condição importante para um resultado
positivo de VNI é a colaboração do paciente (WEINGARTHER et al,1997) .
Os pacientes mais graves são submetidos à assistência ventilatória mecânica,
embora esta também possa ser utilizada para inibir o movimento paradoxal, pois
a entrada de ar sobre pressão nos pulmões, exerce a força aplicada de dentro
para fora, estabilizando dessa forma as regiões fraturadas. Essa forma de
tratamento é denominada estabilização pneumática interna, surgiu em 1956 e
baseia-se no seguinte princípio: o ventilador introduz ar sobre pressão e
insufla os pulmões, fazendo com que a parede torácica expanda passivamente.
Dessa forma o movimento paradoxal deixa de existir e os fragmentos ósseos
passam a ser movimentados de maneira uniforme pelo pulmão em expansão
estabilizando dessa maneira a parede torácica (MARSICO & AZEVEDO, 2000).
A assistência ventilatória mecânica deve ser indicada pelo grau de alteração
funcional e não somente por problemas mecânicos como afundamento de tórax ou
ventilação paradoxal. Usar como critério PaO2/FiO2 < 300 ou PaO2 <
60mmHg em ar ambiente ou Sato2 < 90% e no trauma torácico extremamente
grave, no qual estão presentes contusão pulmonar extensa e tórax instável
e ainda no caso de lesões extratorácicas associadas (CARVALHO, 2000; MARSICO
& AZEVEDO,2000) e deve estar sempre associada a drenagem pleural, profilática
ou não, pela freqüência com que esses pacientes apresentam ou tendem a
desenvolver pneumotórax (TARANTINO, 1997). A presença de choque hipovolêmico
na admissão, contusão pulmonar moderada ou severa, região de livre flutuação
torácica bilateral, necessidade de transfusão sanguínea nas primeiras 24
horas da internação,fraturas ósseas ou lesões do tronco e crânio-encefálicas
associadas são fatores que aumentam a probabilidade de que possa ser necessária
assistência ventilatória mecânica invasiva (WEINGARTHER et al,1997).
Utilizar modos ventilatórios com os quais a equipe esteja mais familiarizada,
utilizando modos ciclados a volume ou limitados a pressão, com maior preferência
para modos volumétricos. Empregar volumes correntes de 8 a 10 ml/kg e
freqüência respiratória baixa de modo a manter esses pacientes em leve
alcalose respiratória. Quando ventilados a pressão deve-se evitar pressões
muito elevadas, pelo risco de barotrauma, e, simultaneamente, garantir o
fornecimento de volume corrente suficiente e ainda tempo inspiratório mais
longo ou pausa inspiratória. O uso de peep é rotineiro exceto nos pacientes
portadores de DPOC. A peep reduz a shunt e permite o uso de FiO2 mais baixa. A
redução da FiO2 evita o dano alveolar da oxigenioterapia concentrada e
previne a tendência ao colapso que esses alvéolos apresentam quando submetidos
a lavagem do nitrogênio provocada pela FiO2 persistentemente elevada. Todas
essas medidas em conjunto com o posicionamento adequado do paciente buscam
ventilar melhor as áreas atelectasiadas e reduzir o shunt (CARVALHO, 2000;
TARANTINO, 1997).
A associação ventilação assistida e peep reduz a duração da ventilação
e diminui as complicações e a mortalidade decorrentes do método (MARSICO
& AZEVEDO, 2000).
Considerar a possibilidade de ventilação independente (CARVALHO, 2000; SOTO et
al, 2000). Dessa forma são alcançados níveis diferenciados de peep e de
volume corrente para cada pulmão obtendo-se melhora na V/Q. O procedimento
evita a distensão demasiada de regiões do pulmão normalmente complacentes,
enquanto, ao mesmo tempo, proporciona os benefícios advindos dos níveis mais
altos de peep nos segmentos lesados e de baixa complacência (MARSICO &
AZEVEDO, 2000). Um estudo realizado em 1999, mostrou que o uso do tubo de duplo
lúmem associado a fisioterapia pneumo-funcional em pacientes com tórax instável
e atelectasia refratária teve bons resultados em comparação com fisioterapia
convencional, drenagem postural e inspirômetro de incentivo no tratamento desta
complicação pulmonar (KEOHANE et al, 1999).
Em situações de enfisema subcutâneo hipertensivo e/ou fístula broncopleural
de alto débito empregar volumes correntes baixos, freqüência respiratória
alta, e técnicas ventilatórias que propiciem uma menor pressão média de vias
aéreas (CARVALHO, 2000).
Quanto ao desmame ventilatório, não existe tempo previsto para ventilação
mecânica em trauma de tórax após seu início. Mesmo que persistirem alterações
mecânicas como movimento paradoxal e outras, o critério do desmame é
sempre funcional (CARVALHO, 2000).
Conclusão: A fisioterapia intensiva no paciente com tórax flácido tem
como objetivo prevenir e tratar as complicações e alterações funcionais a
fim de melhorar as capacidades e volumes pulmonares para obter uma adequada
oxigenação e ventilação. Esses objetivos são alcançados através de
cinesioterapia pneumo-funcional com exercícios com pressão positiva visando
reexpansão pulmonar e higiene brônquica para manter pérvias as vias aéreas.
A assistência ventilatória invasiva deve ser empregada nos casos mais graves e
frente a um quadro de IRpA, ajudando a estabilização da caixa torácica pela
pressão positiva, onde o fisioterapeuta intervém ajustando os parâmetros
ventilatórios de forma adequada para manter a função pulmonar e retirar o
paciente do ventilador o mais precoce possível a fim de prevenir infecções
pulmonares, tempo de internação na UTI e reduzir gastos financeiros.
É necessário mais estudos na área a fim de garantir um melhor atendimento a
esses pacientes visando melhora funcional e de qualidade de vida.
Bibliografia:
ABISHEGANADEN, J., WANG, Chee.
Use of bilevel positive airway pressure ventilatory support for
pathological flail chest complicating multiple
myeloma. Eur Respir J. v.12, p. 238 - 239, 1998.
CARVALHO, R. R. Ventilação Mecânica. v. I -
avançado.São Paulo:Atheneu, 2000. p. 195-203.
CARVALHO, R. R. Ventilação Mecânica. v. II -
avançado.São Paulo:Atheneu, 2000. p. 398 - 404.
DAVIGNON, K. et al. Pathophysiology and management
of the flail chest. Minerva Anestesiol. V.70, p. 193 -
199,2004.
FELTRIM, Maria Ignês; PARREIRA, Verônica. Fisioterapia respiratória:
consenso de Lyon.1994.
GALLUCCI, Coatabile. Traumatismos torácicos. São Paulo:Panamed, 1982. p. 65 -
81.
KEOHANE, M et al. Differential lung physiotherapy using
a double lumen tube in flail Chest and refractory lung
atelectasis. Intensive Care Med. V.25, p. 410 - 411, 1999.
KNOBEL, Elias. Condutas no paciente grave. V.II. São Paulo: Atheneu, 1998.
p.897.
MARQUES, Eulydes. Tórax agudo: estratégia
e tática em cirurgia torácica
de urgência. São Paulo: Sarvier, 1992.
MARSICO, Giovanni A., AZEVEDO, Dirceu E. Orientação
atual no tratamento do tórax instável. Pulmão RJ, Rio de
Janeiro, v.9, n.1, p. 44 - 53, jan-fev-mar.2000.
MIDDLETON, C et al. Management and treatment of patients with fractured
ribs. Nursing Times. V.99, n.5, p. 30 - 32, 2003.
PÉREZ, Orlando I. et al. Traumatismo torácico
bilateral: a propósito de 1 caso. Rev
Cubana Cir. v.41, n.3, p. 201 - 205, 2002.
SOTO, Alberto G. et al. Tórax volante y contusión pulmonar.
Rev. Chilena de Cirurgia. v.52, n.4, p. 335 - 346, agosto. 2000.
SULLIVAN, Susan B.,SCHMITZ, Thomas J. Fisioterapia: avaliação e
tratamento. 4.ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 461 - 463.
TANAKA, Hiroyuki et al. Pneumatic stabilization for
flail chest injury: an 11-year study. Surg Today. v.31, p. 12 - 17,
2001.
TARANTINO, Affonso B. Doenças pulmonares. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. p. 1009 - 1011.
TERRA FILHO, Mário et al. Pneumologia: atualização e
reciclagem. v. IV. São Paulo:Vivaldi, 2001.
VELMAHOS, George C. et al. Influence of flail chest
on outcome among patients with severe thoraciccage trauma. Int Surg.
V.87, p. 240 - 244, 2002.
WEINGARTHER, Roger et al. Ventilação com pressão
positiva não invasiva em tórax instável. Rev. Bras. Terap.
Intens. V.9, n.4,p. 204 - 206.outubro/dezembro, 1997.